segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Das diferenças culturais.


No outro dia, uma amiga minha daqui, que é da Bélgica, com a qual estou a planear uma viagem a Copenhaga, deixou-me preocupada ao dizer-me que "precisávamos falar", sobre "algumas coisas que ela tinha para me dizer, para bem da nossa amizade, otherwise, a nossa amizade estaria em risco" e que "tinha de falar comigo acerca disto antes de ir a Copenhaga juntas".

Fiquei assustadíssima, pois claro está, a achar que tinha feito algo de mal...

O que ela me disse, eu nunca teria imaginado: é que sou muito "dada". Muito da partilha... Se alguém estiver a comer um pacote de batatas fritas eu tendo a tirar uma, por exemplo. Ou que naquele específico dia pedi um golo de alguma bebida (dia esse que nem me lembro, mas enfim).

Para eles, isso é falta de eduação. No entanto, a minha intenção nunca, mas nunca, seria ser mal educada. É apenas a minha cultura. Se eu tivesse a comer um pacote de batatas fritas, nunca iria entender como falta de educação se me tirassem uma. Se alguém me pedir alguma coisa, eu não tenho problema nenhum em dar. Partilhar. Não vou ficar a matutar nisso e muito menos, fazer um big deal about it. (à falta de melhor expressão em português).

Se alguém cozinha para mim um dia, e eu não ajudei em nada ou não contribuí com nada, no outro dia serei eu a cozinhar, com a minha comida, sem pedir nada em troca.

Se me passam qualquer coisa para a mão, sem que seja minha, noutro dia serei eu a passar qualquer coisa para a mão de alguém, sem que seja do outro alguém.

Se eu emprestar dinheiro a uma amiga que precise hoje, não vou andar atrás dela sempre a dizer que ela me deve dinheiro. Até porque detesto isso. Noutro dia qualquer, será alguém a emprestar-me a mim se precisar.
Tudo isto para mim são coisas naturais, porque tem a ver com a minha cultura e os meus hábitos, entre mim e amigos - e também já reparei que é uma coisa muito latina, portugueses, espanhóis, italianos (franceses não conheço quase nenhuns). Não há aquele comportamento "strictly", o que é meu é meu, o que é teu é teu, não há cá trocas. Se te dou, tens de me dar de volta. Como se as relações fossem um negócio. Faz-me confusão!

Nem sequer me passava pela cabeça que seria isso que ela teria para falar comigo, pois nunca achei que alguém parasse para pensar nessas pequenas coisinhas, a esse ponto. Mas o facto é que as pessoas que estavam "de mal" com este meu comportamento são da Bélgica. Nórdicas.

O choque de culturas é evidente e forte. A minha "defesa" foi a de que, tudo bem, posso mudar alguns hábitos que tenho e que elas levem a mal, mas nunca a minha personalidade. Afinal, a amizade acontece na base da aceitação, isto digo eu, é a minha opinião. Não considero amiga uma pessoa que não me aceita pela minha personalidade. Posso evitar ter certos comportamentos que, compreendo, as incomodem; mas sou assim, faz parte da minha maneira de ser, ponto final. Posso deixar de tirar batatas fritas (o exemplo que dei) sem pedir autorização, tudo bem. Mas a minha personalidade não mudo. Deixei isso claro, e ela ficou de bem com isso também.

Admito que achei um pouco estranha, toda esta conversa... e cheguei à conclusão de que realmente, ao início é sempre tudo muito cor-de-rosa, mas ao fim de 2 meses, começamos a ver os "podres" das outras pessoas. E eu sou uma pessoa muito pouco conflituosa, não gosto de me chatear com coisas pequenas como estas - se tirei uma batata aqui, se pedi um golo de uma bebida ali. Por favor. Há coisas mais importantes do que isso.

Apesar de ter ficado extremamente self-conscious a partir desse ponto. Agora, mesmo que não queira, mas não consigo evitar, quando estou ao pé delas penso sempre se estou a fazer algo que elas vão levar a mal...

Gostei imenso da atitude dela em relação a tudo, seria melhor do que só falar nas minhas costas. E, afinal, é a falar que as coisas se resolvem! Chegámos a um acordo, e ficou tudo bem.

Mas the point is: há situações em que, realmente, o choque de culturas é demasiado grande. O que para mim é natural e nem sequer roça na má-educação, para outras pessoas pode ser extremamente mal-intencionado. O facto de, para mim, ser "normal" ser apegada e chegada às pessoas em quem confio, nada tem de mal. Pelo contrário, para mim, ser distante e demasiado racional é ser frio... O não se cumprimentar ou despedir dos amigos mais próximos com beijinhos, é frio.

Mas, enfim, com isto...só se cresce!

2 comentários:

Rafaela Rolhas disse...

qe cena :o
por acaso nunca tha pensado qe isso seria considerado ma educacao noutro pais :/

FamilyHome.29 disse...

Miúda é tãooooooo belga mas tão belga, acredita que o ir falar directamente contigo antes de se meter "numa aventura" juntas é sinal que te respeita e não pretende mau ambiente, é de se lhe tirar o chapéu (vê antes as coisas assim).
Vou ser muito sincera, essas coisas quando aqui cheguei faziam-me imensa confusão, como por exemplo irem a casa de alguem e usarem directamente a casa de banho da pessoa ou irem aos armários ou frigorifico como se fosse na casa deles, isso sempre me incomodou, agora estou mais habituada mas mesmo assim às vezes ainda dou por mim a pensar nisso.
Assim como incomoda todos os que conheço ouvirem-me sempre a dizer "posso isto, posso aquilo" ou antes de comer ou beber o que quer que seja por-me a avisar "olha vou comer este pãozinho ok?" mas isto acontece-me na minha própria casa, porque sempre foi assim que vivi, desde a escola, a casa de amigos...
Sabes, eu acho que é possivel nos dar-mos com todas as culturas por MUIIIITO diferentes que sejam, basta apenas termos mente aberta e espirito livre (sim, eu sei que este vai ser a minha frase de marca lol) para podermos aumentar o nosso conhecimento!
Olha eu adorei o post, deste-me saudades de casa :)
Beijinho grande