Já tinha colocado uma pequena descrição em inglês, mas em português ainda me consigo expressar melhor. Aqui fica a minha reflexão acerca desta experiência:
Descobri que o céu pode ser um local na terra.
Foi uma experiência tão intensa e maravilhosa. Os pequenos animais, lagartos, plantas, flores, a crescer a partir do chão em direcção a mim, como se eu pudesse andar entre eles... as cores dos cartazes e postais na minha parede, com a luz das velas na fita-cola, dava a sensação que um lençol de água, uma cascata colorida e calma, caía pela parede, era tão bonito, tão tão LINDO, apetecia-me tocar, fundir-me na parede, abraçá-la para sempre, sentir a água nas minhas mãos. Poderia ter ficado a olhar para aquele espectáculo, para sempre. Encontrar padrões de imagens, sons, cores, que nunca tinha encontrado antes. Encontrar coisas surpreendentes num quarto onde vivo há quase 3 meses. Não foi assustador como eu pensava que seria, pelo contrário, foi FASCINANTE.
As cores eram tão vívidas, conseguia distinguir as mais pequenas nuances, as mais pequenas diferenças de contornos, quase parecia ser um desenho animado com umas cores muito fortes mesmo; as sombras eram mais evidentes, conseguia ver o degrade da intensidade das sombras, o seu gradiente, na perfeição; os sons eram tão intensos, as músicas eram tão bonitas e felizes, de uma felicidade que tocava na tristeza, e uma espécie de tristeza que se confundia com a mais pura das felicidades. Fez-me chorar. Chorar de tanta felicidade junta. E é tudo tão bonito e intenso… tão engraçado – rir durante meia-hora seguida é perfeitamente possível! – que só apetece sentar e ficar a olhar para toda aquela beleza à minha volta, só rodar a cabeça e ver coisas diferentes, mágicas, até pozinhos coloridos no ar eu conseguia ver. Andar também era uma experiência engraçada, como se tivesse molas nos pés e nos joelhos, e conseguisse andar como num trampolim. Andava como se de um trampolim o chão se tratasse (sem que nunca aqueles padrões do chão desaparecessem) a tocar as paredes, a vê-las a mover de uma forma fascinante, a tocar em todos os efeitos visuais, a tentar senti-los com as pontas dos dedos, com o meu corpo todo.
E é tudo tão maravilhoso que dá a sensação que estou em todo o lado deste maravilhoso mundo. Como se o meu corpo se tivesse tornado em pó e fosse com o vento para todos os locais deste lindo planeta.
É como olhar o mundo com olhos diferentes. Aliás, não apenas olhar, mas sim ver. Cada pormenor é tão bonito e intenso e perfeito. Perguntas-te porque é que nunca antes tinhas visto o mundo assim, por que razão não o podes ver sempre assim, porque é que esta não pode ser a tua realidade constante, e porque é que, alguma vez na tua vida, te sentiste miserável, como é possível, se neste momento estás tão feliz, de uma forma tão esmagadora que cansa. Se neste momento, tão pequenino e tão eterno como é cada segundo que passa, é tão bonito e tu nada mais queres senão apreciá-los na sua essência, pelo que são, naquele momento, naquele local, naquela circunstância, cada detalhe que encontras é tão bonito, é como descobrir todo um novo mundo pela primeira vez, qual bebé que nem uma esponja. A beleza é tão imensa e esmagadora, ao ponto de te fazer respirar mais rápido e mais fundo, sentires o bater do teu coração e até tornares-te consciente do teu próprio corpo, para teres a certeza que estás tão VIVO como sentes que estás, para teres a certeza que estás mesmo aqui a presenciar isto tudo, que não é um sonho e que não, não estás nas nuvens como crês estar. Rapidamente, porém, te apercebes que este corpo, esta respiração, este bater de coração, não é mais teu. Ele pertence agora ao universo, à terra, estás perfeitamente conectado com tudo o que te rodeia, o teu ego desapareceu, não há uma noção definida do “eu” ou de um “aqui” e muito menos de um “agora”. Tudo de repente se torna num Uno perfeito. Um nível totalmente diferente de consciência.
No fim, quando os efeitos visuais passam, notas o extremo cansaço e exaustão de te teres rido tanto, chorado tanto, amado tanto, descoberto tanto, VIVIDO tanto e tão intensamente durante 4 ou 5 horas, e começas a entrar na fase mais filosófica; já não vês lagartos e flores a crescer do chão, mas começas mais a pensar no significado profundo que tem tudo o que viste. E então tens a certeza que a tua vida e a tua perspectiva sobre as coisas mudou. Para sempre.
Hoje acordei no quarto das maravilhas… tenho a sensação de que tudo foi apenas um sonho maravilhoso, apesar de real. Tenho a sensação de que, se perguntar às pessoas que partilharam esta experiência comigo, elas vão dizer que eu sonhei tudo. Porque agora eu olho para o chão, e já não consigo mais ver a diferença do gradiente de cores; as paredes já não mexem; já não há cascatas coloridas a cair dos posters na parede. No entanto, sinto que nunca mais vou esquecer esta experiência. Foi uma das experiências mais fantásticas pelas quais já passei.
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