quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A caminho das 4 semanas, e o primeiro mau momento.

Hoje senti, pela primeira vez desde que cá cheguei, uma acentuada homesickness. Eu já estava a achar estranho ela não aparecer... estava a achar estranho não sentir saudades de casa quase nenhumas estando aqui há, praticamente, um mês. Pronto, foi hoje, doeu, mas passou!... (como quando temos que tirar um penso rápido que está bem coladinho à pele, lol).

Hoje pela primeira vez senti a saudade a tocar. O ver o facebook dos meus amigos, as novas fotos deles, o skype, fotos de Lisboa. O telefonema da minha avó, a minha mãe e o namorado no skype, os mails do meu pai, as fotografias com o Alex de há 1 ano atrás, as fotos com a Vera, os cartõezinhos que o Rafael e o Sandro me deram... sei lá, a saudade, aquela saudade mesmo portuguesinha, bateu. Ver o namorado no skype e aquela sala onde tanto tempo passei, e a Daniela, e as cortinas verdes e laranja do meu estúdio de Lisboa... Até saudades da comida horrorosa da minha mãe e daquela vozinha histérica que ela tem. Isto dito com todo o carinho, nunca lhe dei tanto valor como hoje!

Hoje senti-me com medo, desprotegida, completamente fragilizada. Hoje, apeteceu-me chorar! Sei que não estou sozinha, mas senti-me tão sozinha, hoje.

Talvez por ter ficado o dia todo em casa. Talvez por estar doente, o corpo a lutar para recuperar, o sono, o ócio, e o cansaço tudo junto. E, juro, foi o dia mais longo da minha vida! Geralmente, em Portugal, não tenho problemas em estar em casa no chill out. Até gosto. Ver uma televisão, ouvir um bom jazz, ler um livro... Mas aqui, não é o mesmo. Hoje foi o primeiro dia em quase um mês que parei, por um pouco. (por ainda estar doente e querer recuperar a 100%). Foi só um dia... e pareceu-me uma semana enclausurada!

O que senti hoje, foi completamente irracional, pois sei que não é verdade, que não estou sozinha. Sei que à distância de um elevador tenho aquilo a que já posso chamar de amigos. Sei que à distância de 50 metros, no bar do campus, tenho álcool para "beber para esquecer" se assim o quiser. Sei que tenho pessoas com quem falar de coisas superficiais, sei que tenho pessoas com quem ter conversas profundas. Sei que à distância de um telefonema tenho família e amigos.

Mas não quis "incomodar" ninguém com isso. Não quis fazer queixinhas, não quis chorar no colo de ninguém. Falei com imensa gente back home (pela net e telefone), o que me fez pior - mais saudades ainda - mas não quis mostrar como estava nem deixar ninguém preocupado. Senti a homesickness a vir (e agora felizmente estou a vê-la a ir-se embora), mas quis superar este mau momento sozinha. O que não mata torna-nos mais fortes, é um cliché mas é bem verdade... e eu sinto que o dia de hoje me fez crescer em muitos aspectos.

Primeiro, sei que esta solidão e saudade horríveis que me bateram hoje, não me vão bater assim outra vez tão cedo, porque não vou deixar. Criei anti-corpos... Segundo, sei agora que nunca devo tomar nada por garantido. Quando estava em Lisboa já não lhe conseguia ver a beleza e o encanto. A cidade em si, um simples passeio por Belém (os pastéis de Belém, ihihih), um gelado no Santini do Chiado, a rotina que tinha, todos os dias o autocarro do Restelo a Entrecampos... Hoje, só de olhar para fotos, quase conseguia sentir o cheiro, o cheiro de Lisboa. A minha Lisboa! Amesterdão é fantástico, por todos os aspectos dos quais já falei e dos quais ainda vou falar mais vezes, é a cidade que me está a ver crescer mais num mês do que num ano inteiro, é a cidade onde vou descobrir sempre mais e mais (pelo menos assim o desejo), mas nunca será a minha "home". "Home" só há uma. Terceiro, pelo facto de saber agora que não posso tomar nada por garantido, eu vou apreciar a beleza de Amesterdão ao pormenor, e vou criar aqui histórias em lugares dos quais vou querer sentir saudade quando voltar a Lisboa. Quarto, eu não sou assim tão independente quanto proclamo. Preciso de pessoas à minha volta, preciso de uma rede de apoio... como diz o velho ditado, "unidos somos mais fortes", ou como a Lane me disse hoje, a nossa vida social é como na selva, os animais geralmente andam em bandos, e os elementos que se isolam do clã, ficam mais susceptíveis e não têm tanta capacidade de sobrevivência... Sempre me proclamei "emocionalmente independente", "não preciso de ninguém"... e no entanto, hoje precisei de um abraço como nunca. Só um abraço...

Deus, este dia foi o pior desde que aqui estive. Todas estas horas fechada dentro destas 4 paredes brancas e pequenas, e uma cozinha comunitária.

O que retiro de bom deste dia é, para além de tudo o que já citei anteriormente, que me curei da constipação, finalmente. Ok, não estou a 100% ainda, mas sei que hoje me vou deitar cedo, esquecer que este dia aconteceu, dormir umas 11 horas, e amanhã acordar e ser um novo dia e eu estar fisicamente em condições para apreciar o que de bela a vida tem aqui. :) Amanhã é um novo dia, é como eu gosto de pensar. E eu preciso desesperadamente dele, que este já está velho, estragado, irritante! Este dia nunca mais acaba!...

Este texto está tão lamechas. Mas foi escrito tão do mais fundo do meu coração.

3 comentários:

Anónimo disse...

E só me resta dizer que amei este teu post; sem dúvida que nunca me senti tão bem a ler-te como hoje, C...

Ver-te frágil (nem que por uns momentos), não é normal. Claro que como toda a gente tens fraquezas, e momentos piores, e quando eles batem longe da "toca" (a nossa casa) ganham logo outra dimensão.

Não duvido, em absoluto, que tenhas ganho anticorpos! Essa frase és tu chapada ;)
Já passaste por ela, agora já a conheces, já a sabes domar e enganar; a saudade é fodida, mas também se consegue amestrar.

Sinto que agora te posso dizer com (ainda) mais certezas, depois de ler esta tua "declaração" que:

"C, you'll be just fine" :)

Beijinhos,
Vasco

Lane Ferreira disse...

sei exactamente o que sentes, uma simples gripe foi o "click"..

hj não pude deixar de comentar.. afinal era sobre aquilo q tinhamos falado.. :D

as vezes só quem passa pelo mesmo que nós, sabe o que sentimos, nao e mesmo??

hoje ja deves tar melhor, assim como eu, aproveita cada NOVO dia enquanto tas ai... porque teus amigos, tua familia e Lisboa vão estar aqui a tua espera!
;)

' Claudjinha disse...

Vasco e Lane, um imenso OBRIGADO a estes comentários. Soube-me bem lê-los, foram dos dois melhores que já li :)