Erasmus é diversão. É festa, são pessoas, é alegria, é
ramboia, sim senhora, confirmo!
Mas Erasmus é também aprender muito com os diferentes
métodos de ensino. Não estive presente muitas vezes na universidade no primeiro
semestre – havia coisas mais giras e interessantes para fazer – mas neste
segundo semestre se há coisa que não posso negar é que aprendi imenso com as
diferentes formas de ensino que experimentei aqui pela primeira vez, e quem em
muito diferem dos métodos de Portugal.
Se em Portugal, pelo menos em Lisboa, e pelo menos na minha
universidade, a avaliação de cada cadeira é feita através de um exame final
(que, se não corresponder à totalidade da nota final, sempre tem uma componente
mesmo quando há outros trabalhos que contem para a avaliação final), aqui é
totalmente diferente: a maior parte das cadeiras (ou disciplinas) é avaliada
através de trabalho contínuo acompanhado de pequenos e semanais “papers”
(pequenos assignments de uma, duas páginas), e geralmente um final paper (e
muitas vezes é só o final paper, sem os pequenos trabalhos pelo meio). Ou então
uma apresentação e um poster sobre “um artigo do nosso interesse, num tópico à
nossa escolha, o único critério é que esteja relacionado com o tema da
cadeira”. Mas nunca, ou raramente, e pelo menos no meu curso, um exame final, o
tão temido exame final, que é o cúmulo de toda a informação dada numa cadeira
concentrada em 60 perguntas de escolha múltipla. Não. E devo dizer que neste
ponto, acho que isso está errado.
Vim a aperceber-me de que o método “final big paper” é muito
mais apropriado, pelo menos para mim. Claro que as pessoas têm preferências
diferentes, mas na minha opinião, a melhor combinação é: sem exame, mas sim um
trabalho final (e também não me importo de ter pequenos assignments de uma
página por semana, ajuda-me a acompanhar a par e passo o que estou a aprender,
de forma soft e light), e de preferência individual. Primeiro, porque acho que
aprendo muito melhor quando tenho de me concentrar num só tópico, mas explorar
esse mesmo tópico A FUNDO, e escrever um final paper baseado nisso. Acho que
aprendo mais, melhor, e sobretudo, com mais interesse; pois geralmente temos
algum espaço de liberdade para escolhermos um tópico que nos interessa, o que
torna todo o processo muito mais interessante até mesmo a nível pessoal; não é
bem melhor do que ser obrigado a trabalhar sobre algo que não se gosta?
Segundo, prefiro que seja individual porque se há coisa que detesto é de
depender dos outros: de quando têm tempo para se reunir, de quando podem fazer
isto e aquilo; nunca é a mesma coisa que poder trabalhar sozinha ao meu próprio
ritmo, de forma independente; também sei que, assim, a nota final é 100% minha
e não de mais outros 4 gatos pingados que calharam ficar no mesmo grupo que eu.
Como final argumento para esta minha posição, sou da opinião de que um exame
final constituído por questões de escolha múltipla apenas serve para ter acesso
ao que o aluno sabe de forma extremamente superficial; e pior ainda, este
“saber” pode ser apenas decoranço, ou cábulas, nada é realmente absorvido pelo
cérebro. Mas escrever, por exemplo, uma research paper proposal, ou até mesmo
uma literature review num tópico específico, mostra não só o que o aluno sabe
acerca deste tópico (em profundidade), como revela determinados skills
necessários a uma vida académica satisfatória, nomeadamente, saber escrever,
saber interpretar, saber basear-se em factos empíricos oferecidos por outros
autores e reescrevê-los pelas suas próprias palavras, ao mesmo tempo mostrando
algum sentido crítico. Quer dizer, conheço pessoas burras e sem qualquer
sentido de espírito crítico, que se limitam a decorar os livros e têm boas
notas nos exames; mas o que é que isso prova acerca do que realmente
aprenderam? Nada. Todo o processo de escrever um trabalho científico, todo o
processo que leva desde a escolha do tópico, à pesquisa, à reunião de
informação, à organização, à estrutura, ao conteúdo… é tão interessante e
aprendo tanto enquanto faço isso, que por vezes dou por mim, em ocasiões sociais,
a dizer “oh, you don’t know what i found out, a research paper about an
experiment about…” e é sempre algo de interessante ;) mas nunca me ocorre
conversar com ninguém ou até mesmo mostrar qualquer tipo de entusiasmo acerca
do que tenho de estudar, estudar no sentido literal da palavra, meaning ler,
ler, ler e decorar (e compreender, claro, mas com uma base muito teórica,
demasiado teórica).
Resumindo e baralhando: considero-me privilegiada por poder
estudar “abroad”, poder experienciar o que é estudar noutro país, que
diferentes métodos de ensino existem, o que ainda não experimentei. Só
experimentando, ao longo da vida, vamos descobrindo o que é mais apropriado
para nós, à falta de melhor expressão em português, “what better suits us”.
Esta experiência de estudar “abroad” foi o que me fez descobrir o quão boa eu
sou a escrever cenas para a universidade, muito melhor do que estudar para um
exame final. Geralmente tenho sempre bom feedback e notas relativamente altas
nos trabalhos (geralmente 16 ou 17 em 20, ou 8 em 10), mas é sempre um desastre
(geralmente 13 em 20, ou 6 em 10) quando tenho de queimar as pestanas para um
exame. O quão mais e melhor eu aprendo algo se puder focar-me num tópico à
minha escolha e explorá-lo a fundo; o quão MELHOR eu me saio (em termos de
notas) com este método, do que o método-exame-final, que consiste basicamente
em: começar a stressar duas semanas antes e ter ataques de pânico e nervos
porque tenho uma quantidade abissal de factos espalhados por 20 blocos de
powerpoint que têm de ser memorizados e compreendidos e postos à prova em 60
perguntas de escolha múltipla que não provam nada, mas mesmo nada, acerca do
que eu realmente aprendi. Para a vida.
Acho que vou mencionar isto quando tiver de preencher o
formulário-pós-Erasmus…. (aquela coisa que temos de escrever acerca da nossa
experiência, quando voltamos de Erasmus. É obrigatório).