terça-feira, 8 de maio de 2012

Aprender com os diferentes métodos de ensino (finalmente, um texto sério).


Erasmus é diversão. É festa, são pessoas, é alegria, é ramboia, sim senhora, confirmo!
Mas Erasmus é também aprender muito com os diferentes métodos de ensino. Não estive presente muitas vezes na universidade no primeiro semestre – havia coisas mais giras e interessantes para fazer – mas neste segundo semestre se há coisa que não posso negar é que aprendi imenso com as diferentes formas de ensino que experimentei aqui pela primeira vez, e quem em muito diferem dos métodos de Portugal.
Se em Portugal, pelo menos em Lisboa, e pelo menos na minha universidade, a avaliação de cada cadeira é feita através de um exame final (que, se não corresponder à totalidade da nota final, sempre tem uma componente mesmo quando há outros trabalhos que contem para a avaliação final), aqui é totalmente diferente: a maior parte das cadeiras (ou disciplinas) é avaliada através de trabalho contínuo acompanhado de pequenos e semanais “papers” (pequenos assignments de uma, duas páginas), e geralmente um final paper (e muitas vezes é só o final paper, sem os pequenos trabalhos pelo meio). Ou então uma apresentação e um poster sobre “um artigo do nosso interesse, num tópico à nossa escolha, o único critério é que esteja relacionado com o tema da cadeira”. Mas nunca, ou raramente, e pelo menos no meu curso, um exame final, o tão temido exame final, que é o cúmulo de toda a informação dada numa cadeira concentrada em 60 perguntas de escolha múltipla. Não. E devo dizer que neste ponto, acho que isso está errado.
Vim a aperceber-me de que o método “final big paper” é muito mais apropriado, pelo menos para mim. Claro que as pessoas têm preferências diferentes, mas na minha opinião, a melhor combinação é: sem exame, mas sim um trabalho final (e também não me importo de ter pequenos assignments de uma página por semana, ajuda-me a acompanhar a par e passo o que estou a aprender, de forma soft e light), e de preferência individual. Primeiro, porque acho que aprendo muito melhor quando tenho de me concentrar num só tópico, mas explorar esse mesmo tópico A FUNDO, e escrever um final paper baseado nisso. Acho que aprendo mais, melhor, e sobretudo, com mais interesse; pois geralmente temos algum espaço de liberdade para escolhermos um tópico que nos interessa, o que torna todo o processo muito mais interessante até mesmo a nível pessoal; não é bem melhor do que ser obrigado a trabalhar sobre algo que não se gosta? Segundo, prefiro que seja individual porque se há coisa que detesto é de depender dos outros: de quando têm tempo para se reunir, de quando podem fazer isto e aquilo; nunca é a mesma coisa que poder trabalhar sozinha ao meu próprio ritmo, de forma independente; também sei que, assim, a nota final é 100% minha e não de mais outros 4 gatos pingados que calharam ficar no mesmo grupo que eu. Como final argumento para esta minha posição, sou da opinião de que um exame final constituído por questões de escolha múltipla apenas serve para ter acesso ao que o aluno sabe de forma extremamente superficial; e pior ainda, este “saber” pode ser apenas decoranço, ou cábulas, nada é realmente absorvido pelo cérebro. Mas escrever, por exemplo, uma research paper proposal, ou até mesmo uma literature review num tópico específico, mostra não só o que o aluno sabe acerca deste tópico (em profundidade), como revela determinados skills necessários a uma vida académica satisfatória, nomeadamente, saber escrever, saber interpretar, saber basear-se em factos empíricos oferecidos por outros autores e reescrevê-los pelas suas próprias palavras, ao mesmo tempo mostrando algum sentido crítico. Quer dizer, conheço pessoas burras e sem qualquer sentido de espírito crítico, que se limitam a decorar os livros e têm boas notas nos exames; mas o que é que isso prova acerca do que realmente aprenderam? Nada. Todo o processo de escrever um trabalho científico, todo o processo que leva desde a escolha do tópico, à pesquisa, à reunião de informação, à organização, à estrutura, ao conteúdo… é tão interessante e aprendo tanto enquanto faço isso, que por vezes dou por mim, em ocasiões sociais, a dizer “oh, you don’t know what i found out, a research paper about an experiment about…” e é sempre algo de interessante ;) mas nunca me ocorre conversar com ninguém ou até mesmo mostrar qualquer tipo de entusiasmo acerca do que tenho de estudar, estudar no sentido literal da palavra, meaning ler, ler, ler e decorar (e compreender, claro, mas com uma base muito teórica, demasiado teórica).
Resumindo e baralhando: considero-me privilegiada por poder estudar “abroad”, poder experienciar o que é estudar noutro país, que diferentes métodos de ensino existem, o que ainda não experimentei. Só experimentando, ao longo da vida, vamos descobrindo o que é mais apropriado para nós, à falta de melhor expressão em português, “what better suits us”. Esta experiência de estudar “abroad” foi o que me fez descobrir o quão boa eu sou a escrever cenas para a universidade, muito melhor do que estudar para um exame final. Geralmente tenho sempre bom feedback e notas relativamente altas nos trabalhos (geralmente 16 ou 17 em 20, ou 8 em 10), mas é sempre um desastre (geralmente 13 em 20, ou 6 em 10) quando tenho de queimar as pestanas para um exame. O quão mais e melhor eu aprendo algo se puder focar-me num tópico à minha escolha e explorá-lo a fundo; o quão MELHOR eu me saio (em termos de notas) com este método, do que o método-exame-final, que consiste basicamente em: começar a stressar duas semanas antes e ter ataques de pânico e nervos porque tenho uma quantidade abissal de factos espalhados por 20 blocos de powerpoint que têm de ser memorizados e compreendidos e postos à prova em 60 perguntas de escolha múltipla que não provam nada, mas mesmo nada, acerca do que eu realmente aprendi. Para a vida.
Acho que vou mencionar isto quando tiver de preencher o formulário-pós-Erasmus…. (aquela coisa que temos de escrever acerca da nossa experiência, quando voltamos de Erasmus. É obrigatório).

1 comentário:

Anónimo disse...

Desculpa, mas não resisto a deixar aqui um comentário.
Sou mais velha e tenho experiência em trablhar fora do país (diferentes países aliás).

Acho interessante o que dizes. Mas tambem deves ver o outro lado: o que podes aprender com esses métodos que te aborrecem.
Neste moemnto vives numa "bolha". A vida real não é assim. Mesmo.

Na vida real e para te sustentares nem sempre vais poder escolher o que gostas de fazer e o que te motiva. Fazes e andas em frente.
Na vida real trabalhas em grupo. Com diferentes hierarquias e dientes personaliddes/formações. Trabalhas e andas em frente.
Por isso esta aprendizagem tb tem o seu lado positivo.

Aproveita bem todas as diferentes experiências e Boa sorte!