Este semestre, não estou a sentir a mesma pedalada que senti no primeiro. Perdi a paciência para conversas de circunstância, de onde és, de onde vens, o que é que fazes, ah que giro, oh so nice. Dou por mim a ouvir alguém a falar e a acenar e a dizer "yes, yes", "yeah, yeah", mas na realidade não estou a ouvir nada de jeito, nada mais para além da superfície, nada que me interesse, uma conversa da qual nunca mais me irei lembrar. No primeiro semestre toda eu era isso: queria conhecer o máximo de pessoas possível (e conheci!), ir ao máximo de festas possível, mas nunca me conectar emocionalmente com ninguém. Sentia-me livre e... cheia de vida! O resultado foi o conhecer pessoas com as quais hoje nem falo, criar, com outras, conexões para a vida (e o que me custa agora não tê-los aqui), e o sacrifício de muitas aulas, muitos estudos, muitos exames... e créditos a menos (que não fiz porque andava a divertir-me).
Este semestre estou a sentir algo contrário: prefiro, agora, manter as conexões que tenho do que criar novas... É que é um processo que leva tempo, paciência, e esta última não me tem assistido... Desde que cheguei já houve milhentas festas Erasmus e eu só fui a duas. E nas duas, fiquei lá uma hora, duas no máximo, até me fartar. Tenho ido a todas as aulas e feito todos os trabalhos com uma antecedência brutal, e ainda me registo em mais cursos do que o normal, para compensar o primeiro semestre. Acho que uma parte de mim diz-me que só vou estar aqui por mais 4 meses e não me interessa muito conhecer muita gente. Muito menos criar ainda mais conexões emocionais. A separação das pessoas com as quais criámos ligações e laços tão fortes, sabendo que vivemos em países diferentes, é das coisas mais difíceis, e não quero passar por isso outra vez no fim do ano. Já me chega ter de passá-lo com ele... enquanto estiver aqui, a distância é 3 horas de comboio, mas quando tiver de voltar para Portugal, a distância vai ser 3 horas de avião, nunca menos de 100 euros, e outros obstáculos que tal. Por isso, de certa forma, não me quero envolver muito desta vez. Já me envolvi mais do que o suficiente!... Acho que já vos falei do quanto me apaixonei por um menino especial e que, sem ele aqui, nada faz o mesmo sentido e sinto até um "vazio", como se algo faltasse. Claro, ele.
Ainda só conheci uma pessoa de jeito, um vizinho novo. É diferente com ele, ele é mais "da minha onda". Temos os mesmos interesses, gostamos de fazer as mesmas coisas, e ele é uma pessoa altamente inteligente e artística (estuda arte). Pois que consigo ouvi-lo a falar sobre as cenas dele por horas ou simplesmente ir a um mercado de rua porque ele tem de comprar coisas estranhas (mas artísticas, que tudo o que é artístico tem o seu quê de estranho) para construir um projecto; depois explica-me o que vai fazer com aquelas coisas, e eu rio-me... é tão estranho, mas ao mesmo tempo tão bom, ter alguém assim tão diferente do resto das pessoas. Estou fartíssima de pessoas normais. Preciso, à minha volta, de pessoas estranhas, estranhas naquele sentido bom, que estimulem em mim o meu próprio lado "estranho". Além de que sinto que posso falar sobre coisas a sério. Falamos imenso de filosofia, do sentido da vida, do significado da morte, de deus...enfim, conversas de jeito, para além daquelas superficiais. Prefiro assim, uma pessoa com quem possa passar horas a conversar e que me "compreende", a mim e a todas as experiências pelas quais passei no semestre passado, do que conhecer pessoas daquelas que sei que serão apenas para ir para a festa. Estou numa fase muito mais introspectiva e de tentar conhecer-me a mim mesma e ao mundo que me rodeia, do que ir todos os fins-de-semana para uma discoteca. Acho que ele é o meu primeiro e provavelmente único amigo a sério que fiz aqui, desde que cheguei e por um longo período de tempo. Mas bom, se houve algo que aprendi, é mesmo que a qualidade deve sobrepôr-se à quantidade, e isto aplica-se também e especialmente, diria até, às pessoas e às companhias.
Desde que experimentei as coisas que experimentei no semestre passado, nada é mais o mesmo. Sei que é horrível dizer isto, mas de certa forma sinto-me superior quando estou no meio de multidões. Sempre que vou a uma festa, sinto-me deslocada. Não que não seja sociável ou que não consiga manter uma conversa de circunstância por mais de 15 minutos, que consigo. Mas que sinto que estas pessoas não me compreendem, nem a mim nem aquilo que passei... Sinto que tenho uma espécie de conhecimento, que as outras pessoas não têm. Que algumas vezes atingi uma realidade diferente, paralela até, àquela em que vivemos; que vi coisas que normalmente não vemos, mas que estão lá all along.
Sei que isto "sounds like" (não me lembro da expressão em Pt) como algo mau, mas na realidade, é algo bom. Estes meses fizeram-me crescer de forma tal, que diria até, que me sinto num local diferente. "I'm in a different place". Acho que, agora sim, estou a fazer a minha real reflexão do que aconteceu no último meio-ano. Estou finalmente a cair em mim, a pensar de uma forma menos emocional e mais racional, a chegar a conclusões que ainda não tinha chegado. Não me importam mais as festas com músicas da Rihanna e do Pitbull ou daquele palhaço que canta "I'm sexy and I know it". Não consigo mais dançar ao som disso. Não me importa mais conhecer pessoas novas. Não me importa mais ser popular e "cool". Não me importa mais o que as pessoas pensam ou dizem. Dantes já não me importava, e agora ainda menos. Quando vejo alguém e esse alguém me diz "Cláudia!! Such a long time I haven't seen you! Where have you been??!!".
A minha resposta mental é: por aí. Estive por aí. All over the place. Inside my own mind.
Mas fiquei contente que tantas pessoas deram por falta da minha ausência.
Mas fiquei contente que tantas pessoas deram por falta da minha ausência.