Foi uma correria, uma canseira!... Uma semana não dá para tudo.
Mas devo dizer que a minha forma de ver as coisas quando cheguei a Lisboa e agora que estou quase a ir, mudou bastante. (como numa semana as coisas podem mudar assim). Passo a explicar: ao início, o meu plano era ver o máximo de pessoas possíveis, no curto espaço de tempo que tinha. Queria ver, pelo menos, as pessoas que de uma forma ou de outra, estavam presentes na minha vida quando fui embora. Mas depois apercebi-me, de que há pessoas, que por muito que ainda sejam minhas amigas e que ainda goste delas, simplesmente, não valem a pena o esforço. A meio da semana cansei-me de andar a correr. Parece-me que o hábito de tentar agradar aos outros foi reforçado aqui. Já o tinha perdido. E, felizmente, voltei a perdê-lo outra vez. Apercebi-me de que não valia estar a correr atrás de pessoas que não me dizem nada, que nunca me deram feedback, que simplesmente se estavam a cagar. Se eu sou a que estou cá uma semana, se elas (e eles) quiserem estar comigo, então elas é que têm de fazer um esforço, se quiserem estar comigo. Se não? Pfff… tenho mais do que fazer e em que pensar. Tenho uma vida para viver! Adoptei o "go with the flow"...
A modos que nos primeiros dias andava num stress horrível, era as correrias e o querer voltar para Amesterdão, no primeiro dia tive uma mini-depressão-pós-Erasmus, até chorei e tudo. Acabei por passar 80% do meu tempo disponível com as três pessoas das quais senti mais falta, e que são mesmo, não diria “melhores amigos” porque nunca gostei da expressão “melhor amigo” (o que define ser “melhor”? isso já é conversa para outra altura), mas sim, as únicas 3 pessoas com quem não senti que passaram 6 meses sem os ver (ok, 6 meses sem contar com quando eles me foram visitar na passagem de ano, mas mesmo aí, foi a mesma coisa, no aeroporto, foi como se os tivesse visto no dia anterior, porque a conexão que temos uns com os outros é tal, que até podemos ficar sem nos ver, mas o reencontro é sempre natural!), as únicas 3 pessoas com quem senti, ao vê-los, que tinha estado com eles “ontem”. Como uma conversa inacabada, a isto se chama de amizade verdadeira… No fundo, no fundo, acho que aprendi mesmo a filtrar as companhias. Não preciso de muitas. Só preciso das essenciais. Demorou para que eu percebesse isso. Antigamente, quanto mais pessoas eu tivesse à minha volta e com quem pudesse estabelecer uma conexão, melhor. Não que tivesse que estar sempre com elas, mas se soubesse que as tinha ali para mim, era uma espécie de segurança. Agora? Prefiro estar sozinha a pessoas que nunca me deram a mínima importância. Tratar como opção quem sempre me tratou como opção…
Não risquei da minha “lista” todas as pessoas que queria ver, nem todos os locais que queria ir. Mas esta minha visita a Lisboa, valeu muito a pena. Apesar de já estar mais do que pronta para voltar a Amesterdão… não suporto este mundo cheio de gente com mente pequenina. Uma pessoa está fora 6 meses e, quando volta, é incrível como as conversas são as mesmas, os assuntos são os mesmos, as queixas e as lamúrias são as mesmas. Este país, ou bom, esta cidade, deixa-me deprimida só de ouvir lamúrias em todo o sítio. Sinto-me demasiado louca para este mundo de pessoas normaizinhas e que, muitas delas, nada têm a acrescentar à minha felicidade e àquilo que eu sou; não me estimulam, nem aquilo que de interessante eu tenho para mostrar ao mundo. Sei que posso estar a ser má, mas é assim que me sinto. Tão, mas tão deslocada... Tão deslocada, que nem quero imaginar em Julho, quando tiver de voltar de vez.
Uma coisa que me fez imensa confusão, para além de todas as mudanças que tinha referido anteriormente e do quão estranho foi para mim voltar, é o controlo parental. É os meus pais a ligarem-me todos os dias. É a minha mãe a perguntar se vou jantar, se vou dormir, onde é que estou, onde é que estive, o que é que fiz. Quer dizer, a minha mãe já de si é uma pessoa maleável, sempre me deu um certo grau de liberdade, desde que eu a mantivesse a par das coisas, o que era muito bom… dantes. Agora, até a parte do “manter a par das coisas” desapareceu. E não é que eu não me importe com ela, não goste dela, ou não a respeite… é mesmo que eu já estou tão habituada a ter o meu próprio ritmo… jantar? Hora de jantar? O que é isso? Eu que tanto posso jantar às 19h como às 2 da manhã. Dizer se vou dormir ou não? Que é isso? Esqueci-me completamente, porque durante 6 meses eu tinha a chave do meu quarto e eu controlava se ia dormir ou não. E o meu pai? A ligar-me todos os dias? Se estou bem, onde estou, se almocei bem, se me alimento bem, que “não posso andar sozinha à noite na rua”, que lhe dê um toque “quando chegar, para ele saber que está tudo bem”… quer dizer. Não é que eu fique chateada, pelo contrário até compreendo, eles são meus pais, preocupam-se comigo, querem que eu esteja bem, querem estar comigo agora que só estou cá uma semana num ano inteiro, mas eu também não faço por mal, eu simplesmente esqueço-me disso, porque já não estou habituada a “picar o ponto”. Tudo bem que, financeira e economicamente, sou tudo menos independente e ainda dependo das transferências que os meus pais me vão fazendo. Mas mesmo assim, tudo o que concerne à gestão do dinheiro, da casa, da minha vida inteira, basicamente, sou eu. Eu posso dizer, oficialmente, que vivo sozinha e “on my own”. Claro que já não estou habituada a este controlo, que até nem é nada demais, mas para mim já é alguma coisa. E pronto, faz-me confusão… (desejosa de voltar para lá e os meus pais só me ligarem uma vez por semana porque as chamadas são caras,ahahah!).
Mas, enfim, no geral, esta visita fez-me bem. Ajudou-me, sobretudo, a digerir e a reflectir na minha experiência Erasmus (a primeira parte dela), com algum distanciamento…
Sei que já reflecti e voltei a reflectir e escrevi a minha reflexão final vezes sem conta. Mas devo acabar este post dizendo que as minhas principais conclusões foram que, esta experiência, não só me trouxe um enorme crescimento pessoal, uma enorme viagem dentro de mim, de self-acknowledgment, não só amizades para a vida e um amor que creio que nunca vá acabar, como também: sinto que me tornei uma pessoa muito melhor! Melhor em todos os sentidos, na minha opinião… muito mais aberta, tolerante, desapegada das coisas materiais, grata pelas oportunidades que tenho, mais madura. Menos miúda, e mais mulher. Digo mesmo, que esta experiência me fez sentir uma adulta. Antes de ir, ainda me sentia adolescente. Escrevia imenso acerca de como todo o mundo já esperava de mim um certo grau de maturidade e eu ainda me sentia uma miúda. Agora, já não. Saí, oficialmente, da adolescência
1 comentário:
Querida Cláudia, gostei muito de ler, e achei que fizeste uma avaliação muito realista de tudo, ao mesmo tempo entendendo, mostrando até certo humor, a aprendendo que, de facto, vamos 'filtrando' ligações... como bem dizes ?se não querem tantyo estar comigo, porque vou eu querer tanto estar com eles?1
beijinho,
Cristiana
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