Lembro-me tão bem como se fosse ontem: estava exactamente no mesmo lugar no avião, 10A, TAP Portugal. Mas a direcção era a contrária: Lisboa-Amesterdão. Escrevi um texto, com os meus medos, dúvidas, inseguranças, a angústia e o choro das despedidas ainda fresco. Lembro-me de ter escrito que esta seria, provavelmente, uma das melhores experiências da minha vida, mas quando o escrevi não sabia, na realidade, até que ponto este adjectivo, “melhor”, seria aplicável…
Tenho tanto para escrever e contar, nem sei por onde começar! As voltas que a minha vida deu em 5 meses são completamente surreais e nenhuma palavra pode descrever…
Sentada neste avião com destino a Lisboa, onde vou passar uma semana, apercebo-me do quão fora do real esta experiência foi. A intensidade com que vivi… “we tricked the time”, já dizia o Jan, grande amigo; em semanas passaram meses; e nestes meses, passaram anos.
As pessoas que conheci e com quem criei laços para a vida; locais onde estive, que descobri pela primeira vez; as mais variadas sensações e sentimentos, tão diferentes, num curto espaço de tempo; as loucuras que cometi, que em situações “normais” nunca teria feito. A mudança de perspectiva acerca do mundo, da vida, de mim mesma. A realidade que criei, uma realidade nova e fresca, a qual pude viver despretensiosamente, sem ser escrava de uma realidade criada ao longo de 21 anos, no lugar de sempre. Foi como um fresh start, uma lufada de ar fresco, uma oportunidade para refazer uma vida.
Enfim…tantas coisas que vivi! Demorariam o tempo de uma vida inteira a contar.
A mudança é tão grande e a diferença é tão abissal, que eu nem me reconheço a mim mesma, isto é, a forma como eu era antes, como a minha vida era, a forma como eu via o mundo, a minha percepção. Não consigo colocar-me na cabeça da Cláudia-antes-Erasmus, e quando tento, nada faz sentido. É tão estranho voltar a “casa”!... Sendo aquilo a que chamo de “casa” e onde de facto me sinto em casa, não mais em Lisboa, mas sim em Amesterdão.
Não há palavras para descrever o que sinto neste momento: um misto de gratidão por ter tido esta oportunidade; uma excitaçãozinha secreta por voltar a casa; sentimento de closure, de “foi bom, foi fantástico, foi life-changing, mas acabou”, com sentimento de aceitação por isso. Aceitação de que tudo tem um fim… E umas saudades arrebatadoras de tudo o que constituiu o meu último meio-ano: as diferenças de culturas e o que aprendi com elas, as pessoas, as relações, as amizades, os locais, as situações, os hábitos que criei… e tudo o que a experiência me trouxe de novo! Todas as coisas que experimentei pela primeiríssima vez na vida! A saudade e o choro fresco da despedida… as minhas lágrimas, o abraço apertado dele, os últimos “I love you”, os últimos beijos.
Nestes meses cresci tanto! Chorei tanto, ri tanto, experimentei tanto, arrisquei tanto, mudei tanto. Nunca tinha vivido tanto num tão curto espaço de tempo. Sei que é repetir-me, mas como digo: passaram anos!...
Letting it go
O Marcel foi uma das melhores coisas que me aconteceu em Erasmus. De pensar que tudo começou com um fraquinho inofensivo e de como acabámos com “I love you” e a viver juntos, praticamente, e ele a levar-me quase à porta do avião… proclamava que não me queria apaixonar em erasmus, seria estúpido. Mas foi uma estupidez tão saborosa de cometer!
Nunca estive tão apaixonada assim, e não tenho medo nem receio de o dizer. Dá para acreditar? Andámos durante 3 meses, mas eu sinto que passámos anos, por todas as experiências que partilhámos juntos. 3 meses cheios de pequenas eternidades, momentos no tempo que foram inesquecivelmente intensos e que eu desejava poder cristalizar para sempre, ou guardar dentro de uma caixa, o que eu sentia sempre que ele me olhava nos olhos e sorria… queria poder abrir essa caixa sempre que quisesse, que o sentimento fosse eterno!...
Tal como os bons momentos, os maus também são mais intensos “aqui”, e por conseguinte, a despedida foi-me tão difícil. Foi todo um processo, que começou quando faltava um mês para ele ir embora… tudo o que vivemos foi maravilhoso, mas fora do normal. Foi demasiado intenso para acontecer na vida real! Foi como um sonho, e por isso mesmo, um dia tinha de acordar… fui obrigada a tal, por força das circunstâncias, da distância. Durou apenas o necessário para ser completamente inesquecível… apesar de já me ter passado inúmeras vezes pela cabeça que só podemos estar destinados, ele é tão certo para mim como nunca ninguém foi, e que eu acho que, se vivemos num mundo com alguma justiça, nós deveríamos estar juntos, bem juntos!... que não foi nada coincidência o facto de nos termos encontrado neste preciso momento no tempo e no espaço… que é demasiado bom e perfeito, para ter sido apenas um acaso encontrar algo assim. Há pessoas que procuram por este sentimento uma vida inteira e nunca encontram!... e eu encontrei, vivi, e vivi bem. Não posso dizer que não vivi, e como me sinto grata por isso! Não só uma paixão arrebatadora, mas uma forma de amar que eu desconhecia. Nunca amei ninguém assim! Sempre fui a independente, a egoísta, a que “mandava” nas minhas relações anteriores… e aqui estou eu, totalmente entregue a uma paixão, uma entrega total, de uma forma que nunca me entreguei, de uma forma não-egoísta.
Uma parte de mim já aceitou, em paz, que tenho que deixar ir… mas por outro lado continuo a querê-lo como quis no primeiro dia em que o vi e senti um “click” e que pensei “ele tem que ser meu, ele tem que estar comigo, o mundo será um lugar melhor se ele estiver comigo”. E por isso, mesmo à distância, quero manter o contacto com ele… de qualquer forma, e apesar de ele ter dito que a primeira coisa que ia comprar quando chegasse seria uma webcam, não será mais o mesmo que viver juntos, tão intensamente como eu nunca vivi com ninguém… não, não será mais o mesmo, e por isso há que… “let it go”. Se tiver que voltar, há-de voltar… se tiver mesmo destinado e este mundo tiver mesmo algum tipo de justiça, um dia há-de voltar…
Das amizades para a vida
Não descobri apenas uma nova e muito mais intensa forma de amor, como também uma forma de amizade. Conheci montes de gente, mas houve aqueles 3 ou 4 que “ficaram”… terão sempre um lugar especial no meu coração, por terem sido a minha companhia constante, diria até mesmo, a minha família, em tantos momentos preciosos e que nunca mais irei esquecer. Cumplicidade!
E assim, termino esta minha aventura. Com lágrimas nos olhos, devo dizer. A Cláudia que se sentou no lugar 10 A em Agosto do ano passado, não é a mesma. Ela sofreu transformações que levariam o tempo de uma vida inteira a contar. Ela viveu coisas que viraram o mundo ao contrário e que a permitem agora esboçar um sorriso, mesmo no meio do choro.
Sim, estou preparada. Para a próxima parte da minha aventura… Amesterdão, de novo, daqui a uns dias. E com toda a certeza será, também, ainda que de forma diferente, uma das melhores experiências.
1 comentário:
Só posso imaginar quão díficil será voltares à vida de sempre quando passaste meses no Paraíso...
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