quarta-feira, 11 de abril de 2012

Home, sweet home . Ou: apreciar o local de onde vim.




O senso comum diz: só damos valor às coisas quando deixamos de as ter por perto. 

E eu, não podia concordar mais… Desde que estou a viver na Holanda, por sensivelmente 8 meses agora, que dou muito mais valor à minha cultura do que alguma vez dei.
Nunca ouvi tanta música portuguesa (não entender música portuguesa como música popular ou pimba, por favor), por exemplo, como oiço desde que não vivo em Portugal. Um simples poema de Fernando Pessoa deixou de ser algo que eu tive de estudar e ler na escola, para passar a ser algo que leio com muito mais gosto do que antes. Vejo a minha própria língua, nativa, de uma forma totalmente diferente. Consigo achar-lhe uma beleza que dantes não achava… E preciso sentir esta ligação!
E a comida? Se há coisa que não gosto nos países baixos, é mesmo a comida. É tudo demasiado processado! E tudo frito… arrrggg, o cheiro a fritos já me enjoa de forma de tal, não consigo mais ver nem batatas fritas à minha frente. Tenho tantas saudades de comer um salmão grelhado, com batatas e salada… Tantas saudades de um bacalhau bem feito, de uma feijoada de empaturrar, e outras coisas que tal! Detesto os supermercados na Holanda, são tão processados! A área de vegetais e fruta fresca, por exemplo, é menor do que a área em que já tudo está descascado, cortado, embalado e quase mastigado. Não é que eu tenha o hábito de comprar vegetais frescos e cortá-los, mas há um certo encanto pelo menos naqueles mercados de rua que vendem produtos frescos, incluindo vegetais e peixe (não enlatado ou embalado, como é sempre aqui!). A sério, Amsterdão nem parece uma cidade europeia. Uma pessoa vai ao centro da cidade e parece a América: a cada 5 metros há um McDonalds ou um Burger King.

Estou a criar esta ligação nova com a minha própria cultura, que nunca tinha criado… a música, a língua e a comida são apenas exemplos. Quando fui a Lisboa por uma semana, fartei-me de tirar fotografias da cidade…sim, eu sei, é parvo e demasiado turista…mas a verdade é que me senti uma verdadeira turista, alguém apenas de visita e não quem viveu lá por 21 anos.

Sim, o senso comum diz, e tem toda a razão: só damos valor às coisas quando deixamos de as ter por perto. A habituação era tanta que nunca soube apreciar um passeio pelo Chiado com o clássico fado a tocar nas ruas. Nunca soube apreciar bem um passeio em Belém ou subir até ao miradouro do Bairro Alto e ver toda a cidade de Lisboa bem de alto, com o Castelo de S. Jorge num dos picos…

Adoro Amesterdão, disso não há dúvida. Mas se houve coisa que aprendi com esta mudança na minha vida, este ano a viver noutro país, foi mesmo que tenho tanto orgulho do local de onde vim, independentemente dos locais por onde passei e ainda vá passar na minha vida!

Serei sempre, sempre, de Lisboa, e Lisboa será sempre, sempre, a minha cidade. A minha cidade número 1. Longe de casa, mas sempre no coração :)

(agora vou só ali aproveitar os 3 meses que ainda tenho em Amesterdão).

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